Escondida no fundo de um beco próximo à praça da Liberdade, no centro de São Paulo, uma igrejinha rústica de 1779 ganhará seu primeiro restauro completo

 

Vanessa Correa – Folha de São Paulo

A fachada da capela Nossa Senhora dos Aflitos, erguida ao lado do primeiro cemitério público da cidade, vai recuperar o desenho original, que foi modificado. Além disso, um dos oratórios barrocos, perdidos em um incêndio na década de 1990, será reconstruído.

Também faz parte dos planos para a igreja transformar o beco dos Aflitos em um bulevar, com bancos e vasos de plantas. Só poderão entrar veículos de carga e, mesmo assim, em horário limitado. Hoje a igreja, que já está espremida entre prédios, fica quase invisível atrás dos caminhões de carga que param ali para abastecer o agitado comércio do entorno.

O projeto do restauro já foi aprovado pelos órgãos do patrimônio histórico (a igreja é tombada) e segue agora para o Ministério da Cultura, para obter incentivo de empresas pela Lei Rouanet. A obra vai custar cerca de R$ 1,5 milhão.

EXCLUÍDOS

Embora desconhecida dos turistas que lotam o bairro nos fins de semana, a capela recebe fieis em busca dos milagres de Chaguinhas, um soldado negro enterrado ali ao lado de escravos, indigentes e condenados.

Ele foi condenado à morte em 1821, no largo dos Enforcados (hoje, da Liberdade), por protagonizar uma revolta contra a falta de pagamento do soldo. Conta-se que houve três tentativas de execução, mas a corda se rompia.

Por fim, o carrasco tomou emprestado de um vaqueiro o laço de couro e enforcou o soldado. Chaguinhas era um tipo carismático, muito conhecido na região, e a história correu São Paulo atraindo a devoção de fieis.

Dentro da capela, mulheres ainda pedem graças ao soldado ao bater três vezes na porta de madeira da sala onde os condenados aguardavam execução.

A igreja de Nossa Senhora dos Aflitos fica em um beco da rua dos Estudantes. Não abre aos fins de semana.